A decisão sobre qual embrião transferir ao útero pode impactar diretamente as chances de gravidez e a saúde do bebê. Mas como os especialistas em reprodução humana fazem essa escolha? O que torna um embrião mais promissor do que outro? Entender os critérios e métodos de seleção pode trazer mais clareza para quem está passando por esse processo delicado e emocional.
O que define um “melhor” embrião?
Quando falamos sobre “selecionar o melhor embrião”, estamos nos referindo à escolha do embrião que apresenta maior probabilidade de se implantar com sucesso no útero e resultar em uma gravidez saudável. Existem diversos fatores que influenciam essa escolha, incluindo a qualidade genética e morfológica do embrião, o número de células e o desenvolvimento ao longo dos primeiros dias. A seguir, vamos detalhar os principais critérios utilizados nessa seleção.
1. Avaliação morfológica: O primeiro olhar
Um dos métodos mais tradicionais para a seleção de embriões é a avaliação morfológica. Nesse processo, o embriologista observa o embrião sob o microscópio e avalia seu desenvolvimento e aparência. Alguns dos aspectos analisados incluem:
Número de células: No terceiro dia após a fertilização, o embrião deve ter entre 6 e 8 células. Um embrião com menos células pode indicar um desenvolvimento mais lento, enquanto um com mais células pode sugerir um ritmo acelerado.
Simetria: Embriões com células de tamanhos semelhantes tendem a ser considerados mais saudáveis. A falta de simetria pode indicar problemas no desenvolvimento.
Fragmentação: Pequenas fragmentações ou “restos” de citoplasma podem estar presentes no embrião. Embriões com menos fragmentação geralmente são preferidos, pois isso pode estar relacionado à qualidade e ao potencial de implantação.
A avaliação morfológica é uma ferramenta valiosa, mas tem suas limitações. Como essa análise é feita apenas pela aparência e desenvolvimento das células, ela não fornece informações detalhadas sobre a qualidade genética do embrião, o que nos leva ao próximo passo: a avaliação genética.
2. Teste genético pré-implantacional (PGT): Mais precisão para escolhas assertivas
Atualmente, a avaliação genética dos embriões se tornou uma peça fundamental no processo de seleção. O Teste Genético Pré-implantacional (PGT, na sigla em inglês) é uma técnica avançada que permite identificar embriões com alterações genéticas ou cromossômicas que podem reduzir as chances de implantação ou resultar em abortos espontâneos e doenças congênitas.
O PGT é recomendado especialmente para casais que já tiveram perdas gestacionais recorrentes, falhas anteriores na FIV, ou que têm histórico familiar de doenças genéticas. Ele é dividido em três tipos principais:
PGT-A (Aneuploidia): Analisa se o embrião possui o número correto de cromossomos. Embriões com aneuploidias (número anormal de cromossomos) têm menor chance de resultar em uma gravidez saudável e são mais propensos a abortos.
PGT-M (Monogênica): Testa embriões para doenças genéticas específicas que podem ser transmitidas pelos pais, como fibrose cística ou anemia falciforme.
PGT-SR (Rearranjos estruturais): Avalia rearranjos cromossômicos que podem estar presentes nos embriões e causar infertilidade ou complicações.
O PGT aumenta significativamente as chances de sucesso na FIV, ao garantir que os embriões transferidos são geneticamente saudáveis. Embora não elimine completamente os riscos, essa tecnologia oferece uma segurança extra para casais que buscam maximizar suas chances de sucesso.
3. Time-lapse: Monitorando o desenvolvimento em tempo real
Outra técnica que tem ganhado destaque é o uso da tecnologia time-lapse para monitorar o desenvolvimento dos embriões. Esse método permite que os embriologistas acompanhem o progresso do embrião em tempo real, sem precisar removê-lo do ambiente controlado da incubadora.
As câmeras de time-lapse capturam imagens dos embriões a cada poucos minutos, permitindo que os especialistas vejam exatamente como e quando eles se dividem. Isso fornece uma visão mais completa do desenvolvimento, ajudando a identificar padrões de crescimento normais e anômalos que podem não ser visíveis na avaliação morfológica tradicional.
O time-lapse também pode ajudar a identificar embriões que se desenvolvem de forma mais consistente e previsível, o que pode estar associado a uma maior chance de implantação bem-sucedida.
4. Critérios adicionais: O papel da qualidade do óvulo e do esperma
A qualidade do embrião é, em grande parte, determinada pela qualidade dos óvulos e dos espermatozoides. Óvulos de baixa qualidade, por exemplo, podem ter dificuldades em se dividir corretamente após a fertilização, resultando em embriões com anormalidades cromossômicas. Da mesma forma, espermatozoides com fragmentação de DNA elevada podem comprometer a qualidade do embrião.
É por isso que a seleção cuidadosa de gametas (óvulos e espermatozoides) é tão importante quanto a seleção dos embriões. Em casos de baixa qualidade de esperma, técnicas como a ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoides) podem ser utilizadas para garantir que apenas o esperma saudável seja usado para fertilizar o óvulo.
5. Personalização do tratamento: Cada caso é único
A seleção do melhor embrião é um processo altamente personalizado. Cada casal tem um histórico médico e reprodutivo único, e fatores como idade, saúde reprodutiva e diagnósticos anteriores desempenham um papel importante na escolha dos embriões.
Além disso, é essencial que o médico avalie não só a qualidade do embrião, mas também as condições do útero para garantir que o ambiente esteja ideal para a implantação. Em algumas situações, pode ser necessário adiar a transferência de embriões para preparar melhor o corpo da mulher, maximizando as chances de sucesso.
Selecionar o melhor embrião para transferência durante a FIV é um processo complexo e multifatorial, que vai além da simples observação morfológica. O uso de tecnologias avançadas como o PGT e o time-lapse, combinado com uma avaliação cuidadosa do histórico do casal, permite aumentar significativamente as chances de uma gravidez bem-sucedida.
Se você está passando por um tratamento de fertilização, conversar com seu médico sobre todas as opções de seleção de embriões disponíveis pode ser um passo decisivo para maximizar suas chances de sucesso. A ciência da reprodução humana está em constante evolução, oferecendo ferramentas cada vez mais precisas para ajudar a realizar o sonho da maternidade e da paternidade.