Criopreservação

A criopreservação é a técnica de congelamento de gametas (óvulos e espermatozoides) e embriões, que poderão ser utilizados em um momento futuro. Com a criopreservação, podemos preservar a fertilidade, e preservar a fertilidade pode ser benéfico em muitos casos em que a função reprodutiva pode ser comprometida.

Algumas situações geram possibilidade de perda ou comprometimento da função reprodutiva: pacientes com câncer que requerem terapia gonadotóxica (danosas para testículos e ovários) ou outras doenças médicas benignas que também possam diminuir a fertilidade no futuro.

Em outras situações, há apenas o desejo de adiar a maternidade por questões pessoais (não relacionadas a questões médicas), e, à medida que aumenta a consciência do declínio da fertilidade relacionado à idade, há um número crescente de mulheres que optam por criopreservar a fertilidade, vitrificando óvulos. A idade é uma grande ameaça à fertilidade.

Existem também muitos  homens que, antes da vasectomia (cirurgia contraceptiva definitiva), optam por criopreservar espermatozoides.

A técnica também é bastante utilizada com os embriões excedentes dos tratamentos de reprodução assistida, pois, a cada ciclo, o número máximo de embriões que pode ser transferido para o útero varia de 2 a 4, de acordo com a idade da mulher. Se o tratamento resultou em um número maior que esse limite, os que não forem transferidos devem ser criopreservados.

Com planejamento e uso das técnicas estabelecidas de criopreservação, podemos preservar a fertilidade, tornando a futura paternidade biológica possível!

Os óvulos, espermatozoides e embriões são mantidos em uma temperatura baixa ideal para que possam ser preservados e não percam sua qualidade ou capacidade reprodutiva. O material é colocado em palhetas, devidamente identificado e pode permanecer lá por tempo indeterminado. O armazenamento de longo prazo ocorre em nitrogênio líquido.

Na reprodução assistida, a criopreservação é bastante utilizada para que esse material biológico seja preservado e utilizado em novas tentativas, mas também pode ter a finalidade de doação.

A criopreservação de espermatozoides

Para a criopreservação do gameta masculino, é necessária a coleta de espermatozoides, que é realizada por masturbação. Quando nenhum espermatozoide é encontrado em uma ejaculação (nos casos de azoospermia) ou se o paciente não consegue ejacular, os espermatozoides podem ser recuperados por aspiração de esperma epididimal ou extração de esperma testicular (TESA). A eletroejaculação transretal pode ser utilizada para coletar esperma em pacientes que apresentam problemas de ejaculação secundários a procedimentos cirúrgicos anteriores ou doença neurológica.

No momento adequado, o paciente solicita seus gametas para a realização da reprodução assistida. Caso decida não usar, os espermatozoides criopreservados podem ter a opção de serem doados ou descartados.

A criopreservação de óvulos

Em contraste com a criopreservação de embriões e espermatozoides, a criopreservação de óvulos é tecnicamente mais desafiadora. No entanto, usando técnicas atuais, com os protocolos mais recentes de vitrificação, óvulos criopreservados sobrevivem ao processo de congelamento e descongelamento em aproximadamente 90% das vezes.

Recuperação de oócitos

Hiperestimulação ovariana controlada – pacientes que desejam criopreservar óvulos são primeiramente submetidos à hiperestimulação ovariana controlada e recuperação de óvulos. O protocolo de estimulação ovariana preferido é aquele mais compatível com as condições médicas e necessidades de tratamento da paciente.

Nos casos oncológicos, há protocolos desenvolvidos especialmente para essa situação. O encaminhamento imediato a um especialista em medicina reprodutiva também pode permitir a realização de dois ciclos, o que normalmente aumenta o número de óvulos recuperados.

Pacientes com câncer sensível ao estrogênio – protocolos de hiperestimulação ovariana que minimizam o estrogênio foram desenvolvidos, particularmente para mulheres com câncer de mama.

Um intervalo de aproximadamente 12 a 16 dias é adequado para completar um ciclo de estimulação ovariana e retirada de óvulos na maioria das pacientes.

A coleta dos óvulos é feita em um procedimento cirúrgico simples, que dura cerca de 20 minutos. Após uma sedação, a mulher passa por uma punção transvaginal guiada por ultrassom. Em posição ginecológica, o líquido do interior dos folículos é aspirado com a ajuda de uma agulha fina.

Esse líquido contém os óvulos que podem ser vistos apenas após a coleta, com o auxílio de um microscópio. A quantidade de óvulos obtida varia de acordo com a resposta de cada paciente à estimulação ovariana.

A criopreservação de embriões

A criopreservação de embriões foi, inclusive, desenvolvida antes da criopreservação de óvulos e é uma técnica bem estabelecida.

Os pacientes que desejam apenas a preservação dos gametas passam pelos processos de coleta descritos acima e interrompem antes de utilizá-los para criar embriões, por meio da fertilização in vitro. A preservação de embriões em mulheres sem parceiro pode ser feita utilizando esperma de um doador para criar embriões em vez de congelamento (vitrificação) de óvulos.

No entanto, a criopreservação de óvulos oferece mais flexibilidade para a mulher, visto que os relacionamentos podem se desfazer, e os embriões resultantes dessa união podem não ser mais passíveis de utilização.

A criopreservação de oócitos maduros é uma opção para mulheres sem parceiros ou mulheres que optam por não usar esperma de doador para fertilização in vitro (FIV).

Como é feita a criopreservação?

A vitrificação é agora a abordagem padrão para a criopreservação de oócitos e embriões, pois oferece melhores taxas de sucesso.

A vitrificação (do latim vitreum) é a transformação de uma substância em vidro, um sólido amorfo não cristalino. A vitrificação ocorre sem a formação de gelo, que pode danificar as membranas celulares.

Um protocolo de vitrificação envolve a incubação inicial de embrião ou oócito em um pequeno volume (≤1 microL) de meio de cultura com três crioprotetores (15% de dimetilsulfóxido, 15% de etilenoglicol e 0,5 M de sacarose) para desidratar as células. O embrião ou oócito é então mergulhado em nitrogênio líquido, o que resulta em um sólido semelhante ao vidro. O armazenamento de longo prazo ocorre em nitrogênio líquido.

Sobrevivência por congelamento e descongelamento

Não há evidências que sustentem que embriões criopreservados e oócitos se deteriorem com o armazenamento de longo prazo, e a experiência clínica demonstra que eles podem ser armazenados de forma viável por décadas.

No entanto, é importante discutir com as pacientes que a criopreservação de embriões ou oócitos não garante a preservação da fertilidade. As taxas de sucesso estão muito relacionadas à idade da mulher quando os óvulos foram criopreservados e do número de óvulos vitrificados. Em situações de baixa reserva ovariana, em que poucos óvulos foram recuperados, pode ser necessário mais de uma coleta, possibilitando um acúmulo maior de óvulos.

Os embriões criopreservados não podem ser descartados nos primeiros três anos. Durante esse período o casal pode usá-los em outras tentativas, doá-los ou mantê-los congelados. Passados os três anos, o casal pode mantê-los com a mesma finalidade ou descartá-los.

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