A videolaparoscopia é um procedimento fundamental para uma série de situações, mas é importante destacar que, hoje, intervenções cirúrgicas, sejam elas quais forem, são evitadas se não houver a estrita necessidade de sua realização. Em inúmeros casos, basta acompanhar a doença e intervir somente quando essa indicação trouxer benefícios significativos.
No entanto, a videolaparoscopia é uma técnica bastante utilizada e com altos índices de sucesso, sendo realizada para analisar as estruturas da região pélvica e abdominal, podendo executar remoções ou correções, quando necessário, em doenças benignas e malignas.
Também conhecida como laparoscopia, essa técnica traz inúmeros benefícios em relação às intervenções tradicionais e por isso é tão utilizada atualmente. Os traumas causados nas paredes abdominais são menores, com recuperação mais rápida, o risco de infecção é baixo, pode ser realizada rapidamente quando comparada a outros procedimentos de diagnóstico e tratamento, além de deixar uma cicatriz mínima na paciente e menor formação de aderências.
Como é feita a videolaparoscopia?
Inicialmente a mulher passa por avaliação médica das suas condições e comorbidades, e seu histórico é avaliado para descartar a possibilidade de problemas de saúde que impeçam a cirurgia. Também podem ser pedidos exames laboratoriais e de imagem para complementar a avaliação pré-operatória.
Antes do procedimento, a paciente deve realizar um jejum de pelo menos 8 horas. Em alguns casos, é necessário o uso de antibióticos antes da videolaparoscopia para prevenção de infecções, assim como o uso de anticoagulantes para prevenção de trombose, dependendo das características do paciente e do procedimento.
É realizada em centro cirúrgico, em regime de hospital-dia ou em ambiente hospitalar tradicional, com anestesia geral.
Com a paciente deitada na mesa de cirurgia, é feita uma pequena incisão na região abaixo da cicatriz umbilical (local mais utilizado; também pode ser realizada por outros locais na parede abdominal, quando a entrada umbilical for arriscada ou difícil), distensão da cavidade com gás (pneumoperitônio) e introdução do laparoscópio para iluminar a cavidade abdominal e capturar imagens durante a cirurgia, sendo então possível visualizar o interior do abdômen e suas estruturas. Outros pequenos cortes são feitos na região abdominal para introduzir instrumentos que serão utilizados na cirurgia.
Ao finalizar, os cortes são suturados com pontos, grampos cirúrgicos ou fitas adesivas. O tempo de duração pode variar de acordo com a indicação da videolaparoscopia.
Indicações da videolaparoscopia na infertilidade. O papel da laparoscopia na avaliação da infertilidade é controverso e limitado, não trazendo vantagens em seu uso rotineiro. Quando realizamos a laparoscopia, podemos realizar a cromotubagem (instilação de corante nas trompas de Falópio) para avaliar patência tubária.
Por esse motivo, se a laparoscopia for planejada, não será necessário fazer a histerossalpingografia, que tem esse mesmo objetivo. A histeroscopia também pode ser feita em conjunto com a laparoscopia para avaliar a cavidade uterina.
A laparoscopia pode ser indicada em mulheres com suspeita de endometriose ou aderências pélvicas. São principalmente aquelas mulheres com dor pélvica crônica, história de doença inflamatória pélvica, cirurgia ectópica e cirurgia abdominal anterior. Se aderências ou endometriose forem identificadas durante a laparoscopia diagnóstica, pode-se realizar, ao mesmo tempo, excisão e ablação das lesões endometrióticas e adesiólise (retirada) das aderências para melhorar a fertilidade.
O tratamento por laparoscopia pode ser considerado na obstrução tubária distal (geralmente sequela de uma salpingite) que geralmente é diagnosticado pela histerossalpingografia, mas a indicação de correção cirúrgica deve ser cogitada sobretudo em mulheres jovens e com obstrução leve.
A laparoscopia também pode ser indicada para reanastomose tubária por esterilização prévia (laqueadura tubária) em casos selecionados.
No tratamento da SOP (síndrome dos ovários policísticos), a laparoscopia pode ser indicada para realizar o “drilling” (eletrocauterização a laser) ovariano para a retomada da ovulação mensal.
Entretanto, não é considerada uma opção de primeira escolha. A opção para essas mulheres é a mudança no estilo de vida e o tratamento medicamentoso, reservando a indicação cirúrgica quando não respondem à terapia medicamentosa e, com a disponibilidade da FIV, raramente é indicada.
A laparoscopia também é utilizada na hidrossalpinge. Na hidrossalpinge (quando a tuba uterina se enche de fluido, fica bloqueada e aumentada de tamanho), pode haver efeito prejudicial nas taxas de implantação e gravidez devido ao vazamento do fluido hidrossalpíngeo da trompa para a cavidade uterina, que pode impedir a implantação e prejudicar a receptividade endometrial.
A salpingectomia (retirada da trompa) laparoscópica antes da FIV melhora as taxas de gravidez, sobretudo em mulheres com uma grande hidrossalpinge, visível na ultrassonografia.
A disponibilidade de técnica de reprodução assistida, como a fertilização in vitro (FIV), trouxe, em um número grande de casos, melhores resultados reprodutivos, reduzindo a necessidade de cirurgia como tratamento da infertilidade (vide indicações de FIV), principalmente em mulheres com idade reprodutiva avançada (devido ao rápido declínio da fertilidade com o avanço do tempo) e na presença de múltiplos fatores associados.
Recuperação após a videolaparoscopia
A recuperação após a videolaparoscopia é bem mais tranquila do que em uma cirurgia convencional, devido ao fato de que os cortes e sangramentos durante o procedimento são mínimos. Em muitos casos, o paciente recebe alta para casa no mesmo dia. Entretanto, os cuidados devem ser orientados pelo médico de forma individualizada, como alimentação, cuidado com os curativos, retorno as atividades cotidianas, etc.
Riscos da videolaparoscopia
As técnicas laparoscópicas revolucionaram o campo da cirurgia. A taxa de complicações graves associadas especificamente a uma abordagem laparoscópica é geralmente baixa. A maioria das complicações ocorre durante o acesso abdominal, com lesões do trato gastrointestinal e nos principais vasos sanguíneos.
Para minimizar essas lesões relacionadas à via de entrada, várias técnicas, instrumentos e abordagens foram desenvolvidos, e a escolha de uma das técnicas depende de cada cirurgião. Mas outras complicações podem ocorrer, e, inclusive, a conversão para um procedimento aberto pode ser necessária para gerenciar complicações que foram identificadas no intraoperatório.
De qualquer forma, a cirurgia videolaparoscópica é considerada minimamente invasiva, procedimento de baixo risco e foi rapidamente difundida devido à comprovada redução da morbimortalidade quando comparada à laparotomia, trazendo menor trauma cirúrgico e melhor efeito estético.
Está associada a um risco reduzido de qualquer efeito adverso da cirurgia, com redução de dor e número menor de dias no hospital, rápida recuperação do paciente e retorno a um estilo de vida normal.